Mulheres quixeloenses,

A vida nunca foi fácil para nós. Dupla jornada, muita responsabilidade e muito pouco reconhecimento. Somos aquelas que têm a obrigação do fazer, que mantemos a casa em equilíbrio, as crianças na escola e o casamento em ordem. Mas ainda lutamos por mais liberdade, por direitos verdadeiramente iguais. E temos que fazer tudo isso lindas, penteadas, de unhas feitas e em corpos perfeitos, pois a sociedade assim exige que sejamos ‘deusas’ mesmo quando a idade já não ajuda muito.
Somos pescadoras, agricultoras, professoras, donas de casa, mães, viúvas, executivas, empresárias, políticas, enfim somos mulheres. Somos mulheres quixeloenses que também lutam por dias melhores.
Infelizmente o que estamos vendo, recentemente, é não ter reconhecida a nossa dupla jornada, os nossos sacrifícios de uma vida toda em prol da família e até em prol de outras famílias. O princípio da igualdade se confunde com o da meritocracia onde direitos iguais não significam sermos penalizadas.
Hoje ganhamos menos que os nossos companheiros, trabalhamos mais e nos aposentaremos com a mesma idade deles. É preciso repensar isso. Precisamos nos mobilizar. Só assim manteremos direitos que foram conquistados com muito suor, lágrimas e até com sangue.
Em 1827, conseguimos autorização para estudar, mas apenas o ensino fundamental. Foi a brasileira Nísia Floresta, do Rio Grande do Norte, a pioneira em levantar a bandeira da educação – especialmente por publicar o livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens. Nísia é considerada a primeira feminista brasileira e latino-americana.
Em 1879 as mulheres receberam a autorização do governo para cursar o ensino superior. Apenas em 1887 a primeira brasileira recebeu um diploma de ensino superior. A guerreira se chama Rita Lobato Velho Lopes, que se formou na Faculdade de Medicina da Bahia. Ela foi a segunda mulher da América Latina a se formar.
Nós só conquistamos o direito ao voto em 1918 e no Brasil em 1927 sendo a professora Celina Guimarães Viana, do Rio Grande do Norte, a primeira mulher a votar, mas só em 1932, que conquistamos o direito de sermos eleitas para cargos no executivo e legislativo. Casadas apenas com autorizações dos maridos, viúvas e solteiras com renda própria podiam se candidatar. Mas em 1934 essas restrições caem e nada mais era exigido.
A luta que já tinha passado por Coco Chanel, nos levou mais à frente e em 27 de agosto de 1962 foi sancionado o Estatuto da Mulher Casada que, entre outras coisas, instituiu que a mulher não precisaria mais da autorização do marido para trabalhar, receber herança e, em caso de separação, ela poderia requerer a guarda dos filhos. Sim, em 1962, há exatos 57 anos.
A chegada do anticoncepcional, na década de 1960 permitiu maior liberdade sexual e foi nessa época que escritoras como Betty Friedan e Simone de Beauvoir passaram a ajudar a mudar o papel da mulher na sociedade.
Pouco tempo depois nossa luta conquistou mais uma vitória com a Lei Maria da Penha, que surgiu em 2006 como uma das mais celebradas contra a violência doméstica. Em 2015, há apenas 4 anos, foi sancionada a Lei do Feminicídio, que colocou a morte de mulheres no rol de crimes hediondos.
Mesmo diante de tanta luta e de tantas conquistas, nós, agora, estamos correndo o grave risco de ver nossa aposentadoria minguar e escorrer pelos dedos. Aposentar com idade igual a dos homens, perder direito as pensões dos maridos em caso de morte e ainda correr o risco de nos aposentar com menos de um salário mínimo, com 40 anos de trabalho e sem perder nenhum mês de contribuição para a previdência pública e privada – ou seja – um banco.
Assim como vencemos por melhores condições de trabalho nos Estados Unidos, onde muitas de nós pagaram com a vida; fomos nós também que por não suportar mais a fome de nossas famílias na Primeira Guerra Mundial, demos início a Revolução Russa.
No Brasil, na Argentina e no Chile lutamos contra o fascismo e a Ditadura Militar e ainda temos muito contra o que lutar. Conquistamos mais de 25 vitórias ao longo desses séculos, mas ainda falta manter alguns direitos conquistados.
A luta ainda não terminou, mulheres quixeloenses. Feliz Da Internacional da Mulher!