A marca alaranjada característica da presença do ferro na água. Tal concentração eleva o trabalho do SAAE no sentido de tornar a água potável.
A água é o bem mais precioso deste planeta que inexplicavelmente se chama Terra, quando a maioria da superfície é preenchida por água. Nós, seres humanos, somos compostos de 80% de água e daí a importância desse líquido tão precioso à vida.
O grande desafio das expedições a outros planetas é encontrar água. E você deve estar perguntando: – “O que isso tem a ver com você?” TUDO!
A seca de 5 anos

O Nordeste brasileiro vive hoje a maior seca de toda a sua história. São cinco anos com chuvas abaixo da média que não conseguem revitalizar rios, encher açudes, barreiros e recompor o lençol freático que são as reservas subterrâneas de água.
Em Quixelô não é diferente. Há anos que a água está mais escassa e muitos poços já estão inteiramente secos ou inoperantes. Mesmo assim, a Prefeitura de Quixelô não deixou que faltasse água e montou uma grande operação para perfurar poços, entregar cisternas, chafarizes e até água encanada a várias comunidades que moram fora da sede do município. É possível dizer que nunca se furou tanto poço nesse município. Se não fosse essa determinação de buscar água a todo sacrifício, hoje, Quixelô estaria sendo abastecida por carros-pipa.
A dura rotina do SAAE de Quixelô

Estivemos acompanhando a rotina do SAAE – Serviço de Abastecimento de Água e Esgoto, na companhia do diretor César Almeida, e pudemos constatar o quanto é dura e difícil a luta para não deixar faltar água no município.

A água de Quixelô possui alta quantidade de ferro e isso se torna um problema a mais dentre todos os que já existem. A captação de água para atender a sede urbana ocorre por meio de poço artesiano no Sítio Botão e, como o teor de ferro é elevado em todo o Vale do Jaguaribe, a água captada precisa passar por um tratamento completo e específico para a retirada do ferro dissolvido na água.
Á esquerda a agua depois de filtrada e em processo de adicionamento de cloro. À direita o resíduo resultante da retirada do ferro da água.
O ferro na água chega à tubulação e deixa resíduos na rede de distribuição que acaba saindo na torneira do usuário, especialmente quando é preciso parar o sistema e depois, ao retornar o funcionamento, acontece a oxidação do ferro que cria a ferrugem, causando coloração alaranjada na água.
A atual Estação de Tratamento de Água – ETA passou por algumas reformas que melhoraram o tratamento após a construção de dois decantadores e um aerador, mas, mesmo assim, ainda é necessário melhorar a eficiência no tratamento referente à questão do ferro, pois a seca reduz a quantidade de água e aumenta a concentração desse tipo de substâncias. Apesar disso, podemos afirmar que o SAAE consegue atender as exigências da Portaria de Potabilidade do Ministério da Saúde.
A situação de Quixelô não é das piores
César Almeida é diretor do SAAE de Quixelô
O SAAE de Quixelô, em parceria com a prefeitura, a Sohidra e a Cogerh estão constantemente perfurando poços profundos, mas apenas ameniza a situação e de forma temporária. Apesar de preocupante a situação de Quixelô não é das piores. Há outros municípios no nosso Estado em situação muito mais crítica e, por isso, têm prioridade para a perfuração de poços.
A maior luta tem sido conseguir a construção de uma adutora captando água diretamente do açude Trussu (Roberto Costa) como já existe para as cidades de Iguatu e Acopiara. A adutora vai resolver definitivamente o problema de água para abastecimento humano, para a sede municipal, Vila Antonico, Firmino e Acampamento. A prefeita está buscando junto às autoridades políticas parceiras de Quixelô prioridade máxima para o atendimento do pleito por essa obra, que deve custar, aproximadamente, oito milhões de reais.
Uma luta diária e silenciosa
Adutora do Botão. Quixelô precisa de nova adutora, desta vez vindo do Trussu.
Há um cuidado extremo do SAAE com a qualidade da nossa água e isso é resultado de uma luta travada dia e noite e, muitas vezes, nas madrugadas. Por vezes, o César Almeida, diretor do SAAE, teve que sair de casa no meio da noite para religar bombas que pararam de funcionar por problemas na rede elétrica.
Isso tudo faz parte da luta silenciosa para manter a água sem faltar nas torneiras, mas é preciso que a população colabore, especialmente no uso racional da água, sem desperdícios, para que as necessidades básicas não venham a ser interrompidas.
A batalha contra o desperdício de água em Quixelô
Estima-se que 35% de toda a água tratada em Quixelô seja desperdiçada na escovação dentária, no banho, na lavagem de roupas, limpeza das casas, além de vazamentos. É inconcebível que se use água tratada para lavar calçadas ou ainda deixar as torneiras abertas além do necessário.
Quixelô possui saneamento básico na Sede. A água do esgoto não corre pelas ruas atraindo mosquitos e com eles as doenças que atacam tanto animais como seres humanos. Parte da água, depois de tratada, pode ser utilizada na irrigação de pastagem. Dessa forma há ainda uma grande economia desse precioso recurso.
Enquanto a transposição do rio São Francisco
Tanques de decantação e tratamento de esgoto em Quixelô
A transposição do São Francisco já era para estar funcionando. As sucessivas paralizações empurraram a sua finalização para 2018. Ainda falta o trecho de Salgueiro em Pernambuco até Jati no Ceará. Há uma expectativa de que somente em janeiro do ano seguinte as águas estarão chegando até o açude Castanhão.
Para que as águas do Velho Chico passem pelo município de Quixelô, é preciso que o Governo do Estado também conclua, no mesmo tempo, o trecho do CAC – Cinturão das Águas do Ceará, que canaliza as águas que chegam no reservatório de Jati até o rio Cariús, em Nova Olinda, para só então passar por Quixelô até chegar no açude Orós.
Enquanto as águas da transposição chegam até Quixelô e até conseguirmos a adutora do açude Trussu, ficam nossas orações à espera da chegada do inverno, pois se demorar a vinda das chuvas e se continuar o desperdício de água, em breve, poderemos ter racionamento, como já acontece em cidades como Iguatu, que fica logo ao lado.
Quando as chuvas chegarem o problema acaba? Não.
Estação de tratamento de esgoto no bairro da COHAB
Mas não imagine que se a chuva chegar, os problemas acabam. Eles serão outros. Além de levar um tempo para que a água que cai do céu volte a recompor os lençóis freáticos, ainda haverá a necessidade de desconectar as bombas que estão funcionando embaixo da terra para operarem em balsas flutuantes de captação. Outra operação logística que precisa ser feita com extrema rapidez e em uma sequência de planejamento perfeita para que não ocorram problemas de falta d’água.

Viver e morar no Nordeste brasileiro é muito bom e lindo, mas já deveríamos ter aprendido a conviver com os períodos de escassez de água. Poderíamos estar, mesmo durante uma seca de cinco anos, com boa reserva de água se a nossa postura fosse de eterna vigilância e ação contra o desperdício. Há também a necessidade dos governos investirem mais em obras que podem resolver definitivamente o problema da escassez, que só acontece com a integração de bacias perenes para as bacias intermitentes.
Portanto, nesse momento, o mais importante a fazer é economizar água e orar ao Céu que nos envie logo a redentora chuva que acabará com cinco anos de seca. Mesmo com a chuva de volta e com inverno bom, a luta vai continuar, pois sabemos que sempre haverá uma nova seca e, assim como na Bíblia, o tempo de ‘vacas magras’ sempre voltará a acontecer.
Por Luis Sucupira – ASCOM – QUIXELÔ
Fotos: Luis Sucupira e Ana Paula Cavalcante – ASCOM – QUIXELÔ
Colaboraram – César Almeida